Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Prefeitura declara vendedores de mate e biscoito de polvilho Patrimônio Cultural Carioca

Eles entram na lista ao lado das baianas do acarajé, bate-bolas e bares tradicionais como símbolo da cidade


04/03/2012 10:18:00  » Autor: Texto: Juliana Romar / Fotos: Beth Santos


Foto: Beth Santos“O mate é a relíquia da praia. Sem ele não tem graça. Muitos vivem dele, inclusive eu que há 35 anos dependo do mate para sustentar minha família”. Assim, o vendedor ambulante de mate José de Oliveira Dias, mais conhecido como “Seu Zé”, caracterizou o produto que comercializa nas areias das praias da Zona Sul carioca. Com um sorriso estampado no rosto, ele estava feliz com a notícia de que a Prefeitura do Rio publica amanhã, segunda-feira, dia 5, no Diário Oficial do Município, decreto que declara Patrimônio Cultural Carioca os vendedores de mate, limonada e biscoito de polvilho nas praias da Cidade Maravilhosa. Dessa forma, os ambulantes - pessoas físicas - poderão ser cadastrados pelo município, legalizados e terão o alvará para exercerem legalmente a profissão.

O anúncio foi feito na manhã deste domingo, dia 4, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo subsecretário de Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design, Washington Fajardo, que se reuniram com dezenas de ambulantes na Praia do Leme. A partir de agora, esses vendedores entram na lista de patrimônio da cidade ao lado das baianas do acarajé, bate-bolas, bares tradicionais e da Festa de Iemanjá.

De acordo com o decreto, os vendedores já são considerados personagens marcantes e tradicionais que se tornaram referência na paisagem cultural das praias cariocas e, por isso, serão considerados bem imaterial da cidade. Para Fajardo, “eles representam o espírito carioca que ocupa a paisagem cultural e também fazem parte desse conjunto, juntamente com outros monumentos da cidade como o Pão de Açúcar e o Forte de Copacabana”.

Sob o som dos gritos contagiantes dos ambulantes, como “Olha o mate, geladinho e gostosinho”, “Se for dirigir, beba mate”, “Bebe ele, bebe ela, até minha mãe que é banguela”, “Minha avó tá maluca, minha avó tá maluca, veio aqui comprar meu mate e não comprou a peruca”, o prefeito Eduardo Paes sugeriu à Subsecretaria de Patrimônio que organize um concurso para escolher, através de votação pública, via Internet, o melhor grito do vendedor de mate.

Em um ato simbólico, Paes entregou os quatro primeiros alvarás de liberação do exercício da profissão e falou sobre a importância dessa iniciativa:

- Em 2009, havia uma polêmica de acabar com o mate na praia e vendê-lo apenas se fosse em copinho. Mas há males que vêm para o bem e, agora, esses profissionais são patrimônio da cidade. O grito desses vendedores representa a alma e o espírito do povo carioca que, mesmo sob o sol quente, carregando o galão pesado o dia inteiro, fazem seu trabalho com alegria e energia. Isso é a marca do Rio. Acho que todos que ouvem esse grito lembram dessa cidade, por isso, eles passam agora a ser um ícone – afirmou.

O vendedor Josenildo Ferreira de Souza, mais conhecido como Lobão, atua nas praias do Leme, Ipanema, Leblon e Copacabana há mais de dez anos e foi um dos responsáveis por organizar um cadastro dos outros colegas vendedores para entregar à prefeitura e agilizar o processo do alvará. Ele falou sobre a emoção de ver, hoje, esse sonho sendo realizado:

- Todos nós queremos trabalhar do jeito certo, legalizados, pois a maioria depende da venda do mate e dos biscoitos. Nosso objetivo aqui é trabalhar cadastrado, termos nosso crachá de alvará, para não precisarmos mais ter que ficar correndo da fiscalização e dos guardas. Queremos apenas ter dignidade para poder trabalhar em paz. Fizemos entre nós um cadastro para entregar na prefeitura, com aproximadamente 100 profissionais aqui nessa orla, mas ainda tem outros colegas que trabalham em outras praias como Barra e Recreio que vão integrar essa lista. Queremos poder atuar em todas elas, com liberdade, e mostrar para todos que o mate é gostoso e a limonada e o biscoito também – afirmou.

Após o encontro, o secretário especial da Ordem Pública, Alex Costa, explicou como será o processo de cadastramento desses profissionais:

- Vamos fazer uma reunião de trabalho com esses ambulantes itinerantes para explicar como será o processo de formalização, quais os documentos necessários, esclarecermos dúvidas e orientá-los quanto ao exercício da profissão nas areias das praias. Após esse encontro, os cadastros começarão a ser feitos e eles terão liberados o cartão de alvará para poderem atuar nas praias com tranqüilidade – disse, ressaltando que atualmente já existem cerca de 1.200 vendedores ambulantes de produtos variados atuando de forma legal pela cidade.


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