Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro

 

 


 

Programa de Controle do Tabagismo discute estratégias para prevenir vício do cigarro em adolescentes

24/05/2017 16:37:00  » Autor: Flávia David / Fotos: Ricardo Cassiano


Só quem tenta largar o vício do cigarro sabe o quanto isso é difícil. Mais complicado ainda é convencer o adolescente, em fase de afirmação e descobertas, a não experimentar. Pensando nisso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do Programa de Controle do Tabagismo, promoveu, nesta quarta-feira (24/05), no Teatro Municipal Serrador, na Cinelândia, o seminário “O Rio sem fumo: Desafios da promoção da saúde na juventude”. O evento marca o início das comemorações pelo Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio).

 

Durante o encontro foram discutidas as estratégias de conscientização, prevenção e redução do tabagismo entre os jovens. O seminário reuniu profissionais da SMS e das secretarias municipais de Educação e de Assistência Social e Direitos Humanos. Criado em 1996, o Programa de Controle do Tabagismo é promovido todo ano em 216 unidades da rede municipal de saúde.

 

Entre os palestrantes estavam a responsável pelo Controle do Tabagismo da prefeitura, Ana Helena Rissin; a coordenadora do Programa Nacional de Controle de Tabagismo, do Ministério da Saúde, Valéria Cunha; e o representante do Programa Estadual de Controle do Tabagismo, Samir Sleiman.

 

- Desenvolvemos uma grande estratégia, ao longo dos anos, para que nosso trabalho ganhasse força. Quando ainda não contávamos com as redes sociais, criamos cartazes, folders, ofícios e camisetas, entre outros materiais de campanha. Uma das nossas lutas mais fortes foi estimular ambientes livres do fumo. Acredito que o que vemos hoje em vários lugares da cidade é fruto desse trabalho, além do apoio dos governos estadual e federal na criação de leis voltadas a isso - disse Ana Helena.

 

Em atuação no setor de Doenças e Agravos Não Transmissíveis da Secretaria de Estado de Saúde, Samir Sleiman apresentou números impressionantes do consumo do tabaco no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. Segundo ele, os programas precisam ser intensificados nas cidades para reverter o quadro, por mais que milhares de pessoas já tenham abandonado o vício:

 

- O estado do Rio contabiliza dois milhões de fumantes. Metade tentou parar e, desse número, somente 80 mil buscaram ajuda em programas de saúde. Daí a importância de ampliar as ações para que atendam a um número maior de pessoas. Gasta-se no Brasil R$ 21 bilhões por ano com tratamento, pelo SUS, de doenças de fumantes e cerca de R$ 6,3 bilhões com impostos por causa do cigarro e outros derivados do tabaco. Temos 150 mil mortes no Brasil por doenças provocadas pelo fumo.

 

Valéria Cunha elogiou o trabalho desenvolvido pela Prefeitura do Rio e ressaltou a importância de, além de se falar nas doenças causadas pelo tabagismo, também ser abordada a questão do tabaco, “da produção à comercialização”:

 

- Há muitas questões voltadas ao mercado ilícito que precisam ser debatidas. Há perda de dinheiro para o governo e danos seríssimos à saúde. Por isso, se torna tão necessário trabalharmos em conjunto, todos os governos, para estabelecermos estratégias e reduzirmos o número de fumantes no país. A adolescência é uma fase de ganho de autonomia e de transformações, incluindo a exposição a fatores de risco. É preciso estabelecer ações bem definidas que alcancem a linguagem desse público.

 

O seminário também reuniu a representante do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Liz Almeida; a superintendente de Promoção da Saúde da SMS, Cristina Boaretto; a diretora de Comunicação da ACT Promoção da Saúde, Anna Monteiro, que falou sobre as estratégias de marketing das indústrias de tabaco e alimentos; entre outros convidados.

 

- Somos um dos dois países maiores produtores de nicotina, ao lado de Índia, Estados Unidos e Argentina. À medida em que as leis e campanhas ganharam forma e força, o consumo começou a cair, bem como o número de mortos por câncer de pulmão no Brasil. Mas as propagandas de cigarro estão voltando com força total, a indústria está se tornando versátil. Precisamos traçar ações que contenham o ímpeto nos jovens de experimentar o tabaco - falou Liz.

 

O Programa de Controle do Tabagismo da prefeitura segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, do Ministério da Saúde e consiste em cinco linhas de ação: ambientes 100% livres de fumo, tratamento para deixar de fumar, prevenção da iniciação no tabagismo, mobilização em datas comemorativas e divulgação da legislação. Neste sentido, atua por meio de estratégias para a mudança na aceitação social do cigarro ao estimular o cidadão a deixar de fumar, reduzir a poluição de ambientes fechados e beneficiar o fumante passivo, especialmente as crianças.

 

Foi em uma das unidades de saúde da prefeitura que Teresinha Ferreira Marques, de 56 anos, encontrou ajuda para abandonar o vício do cigarro, que fez parte de sua vida por 37 anos. Moradora de Campo Grande, na Zona Oeste, ela disse que começou a fumar cedo porque via seus familiares fazerem cigarros de palha com frequência e acreditava ser isso uma coisa boa.

 

- Sempre tive vontade de parar, mas faltava um empurrão. Ao falar sobre isso com uma amiga, fui orientada a procurar o programa. No começo, não me animei muito, pois trabalhava no Fundão e não poderia frequentar as reuniões em Campo Grande. Fui incentivada a assistir pelo menos uma e, mesmo não podendo comparecer às outras, segui tudo à risca. Já são cinco anos sem essa droga. Minha vida melhorou muito, tanto o paladar quanto a disposição física. Só não para quem não quer - disse a orgulhosa ex-fumante.

 

O tratamento é gratuito, tem duração de um ano, e estimula o fumante a lidar com seus sentimentos e mudar seus hábitos. Quando necessário, são receitados medicamentos para inibir os sintomas da abstinência, como adesivos de nicotina, pastilha e goma de nicotina e comprimidos. Esses medicamentos são fornecidos pelo Ministério da Saúde e distribuídos nas unidades de saúde que fazem parte do programa.

 

Os interessados em parar de fumar devem procurar a unidade de saúde mais próxima da sua residência que ofereça o programa. No local, são avaliados individualmente para que seja identificado o tipo de dependência, histórico do tabagismo, motivação e demais aspectos que possam auxiliar o tratamento. Após a avaliação, o paciente é encaminhado ao tratamento mais adequado ao seu caso.

 

O programa é desenvolvido em várias etapas: a primeira tem duração de um mês e promove encontros semanais entre os usuários. Em seguida, as reuniões passam a ser quinzenais e, depois, mensais, até completar um ano, quando os ex- umantes recebem um certificado de conclusão.

 

Quem também comemora o fim do vício é a jovem Tainá Maurício Pontes, de 25 anos. Integrante da Rede de Adolescentes Promotores da Saúde, mais conhecida como RAP da Saúde, ela conheceu a iniciativa durante capacitação realizada pela equipe do programa no Centro Municipal de Saúde (SMS) Harvey Ribeiro de Souza Filho, no Recreio, onde atua. As informações que recebeu os males do cigarro a motivaram a abandonar o vício:

 

- Parei em definitivo e não quero mais saber disso. Lido bem com quem fuma perto de mim ou me oferece um cigarro, até oriento a pessoa a parar. Acho que a questão de massificar a informação é o melhor caminho para o combate ao tabagismo e a prevenção para que os mais novos nem queiram chegar perto disso. Esse diálogo também fundamental para que se defina a menor maneira de atingir com determinado público.

 

Para que os envolvidos no Programa de Controle de Tabagismo estejam qualificados para a realização dos encontros, a Assessoria de Controle do Tabagismo capacita profissionais de saúde da rede pública e de outras instituições. Os treinamentos são mensais, com 16 horas de duração e turmas com cerca de 100 pessoas. Para se candidatar, basta ter nível superior. As aulas abordam temas como a história do tabagismo no mundo, o impacto do fumo na saúde, a legislação existente, o papel do profissional de saúde e o poder da mídia e da propaganda.

 

- De 2003 a maio deste ano, mais de 6.200 pessoas foram treinadas para trabalhar com os fumantes, que são acolhidos de braços abertos - acrescentou Ana Helena Rissin.

 

Os endereços das 216 unidades que oferecem o Programa de Controle do Tabagismo do município do Rio estão no Diário Oficial do Município de hoje, em comunicado da SMS.  


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