Entusiasmo e paixão acima de tudo

13/10/2014 03:00:00


 

 

Ângela Maria Menezes da Silva, professora do Centro de Referência
em Educação de Jovens e Adultos, começou no município em 1972.

 

A professora Ângela é elemento de apoio à direção, com dupla regência em educação de jovens e adultos, no Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos (CREJA), desde 2010.

 

 


"Me apaixonei pela metodologia."
Ângela Maria Menezes da Silva


 

 

Diante de uma indicação para dupla regência em 2010 no CREJA, para substituir uma professora titular que havia entrado de licença, sem previsão de retorno, Ângela Maria Menezes aceitou na hora. "O desafio de conquistar e restabelecer o vínculo aluno/professor, onde a confiança e o estímulo são ingredientes que estreitam as relações e, consequentemente, transformam professor e aluno em parceiros prontos para a aventura de desvendar os mistérios do conhecimento, foi fundamental pra mim", revela a professora.

 

Há 14 anos, Ângela, através da metodologia do CREJA faz o aluno interpretar, declamar, sentir, cheirar, provar, tocar, cantar, se emocionar, calcular, e viajar com ela. "Abrimos a janela. O voo é do aluno que sempre sentirá a nossa companhia nesse caminhar e poderá compartilhar conosco todo o seu sentimento, nas conquistas e vitórias de pequenos desafios, mas não menos importantes", revela com emoção.

 

"Comecei com turmas de alfabetização das séries iniciais que corresponderiam às 1ª, 2ª, 3ª e 4ª antigas séries do ensino fundamental. Hoje, meu trabalho com os alunos, consiste em trazer para as aulas informações das diversas mídias, tais como: manchetes da internet, telejornais, propaganda (encartes de supermercados), revistas, gibis, quadrinhos, tirinhas de jornais, receitas em forma de poesia da Cora Coralina, literatura de cordel com Patativa de Assaré, letras de canções sertanejas... tudo que já faz ou pode vir a fazer parte do cotidiano do nosso aluno, e transformar todo esse material em fonte de conhecimento. Em seguida, integrar esse mesmo material com as diferentes disciplinas, com um objetivo principal: mostrar ao nosso aluno que ele tem sim conhecimento acumulado ao longo de sua experiência de vida e é algo interessante para ser acrescentado às aulas. E mais: que sua presença faz toda a diferença e que sua diferença é apreciada com interesse. E ainda: que sua regionalidade será objeto de estudo e valorização na formação do povo e da cultura brasileira e que a sua etnia é fonte de riqueza das tradições das matrizes africanas culturais do Brasil", explica, ao mesmo que valoriza.

 

Em última análise, a professora, coloca que todos os alunos estão conectados ao conhecimento desde que nascem, aprendendo a todo momento. "Pegar novas linhas de ônibus para vir à escola, tirar saldo no banco com senhas alfanuméricas, controlar o saldo do cartão de crédito, comprar tijolos para a obra, os ladrilhos na cozinha, as compras da semana... tudo é conhecimento", esclarece Ângela, que complementa confiante em quem ensina: "só é preciso que lhes digam a senha, ou seja, o password. Porque interesse eles têm! E contrariando os pessimistas, o jovem tem fome e sede de saber. Saber ler para comparar, para compor, para traduzir, para criar, para modificar, para interagir. Enfim, para ser um cidadão que reconhece e aproveita as oportunidades."

 

O que mais dá mais prazer a essa professora entusiasmada, quando conquista seus objetivos, é ver os olhos dos seus alunos brilharem ao conseguirem ler uma palavra que para eles era muito difícil há algum tempo. "É vê-los descobrir que gostam de poesia... que se veem na poesia de Fernando Pessoa, que se divertem com as poesias de Mário Quintana... que Clarice Lispector é genial, por isso é imortal... que apreciam os poemas de Lígia Fagundes Teles... resistência e um tributo à independência feminina... que curtem histórias de vida e determinação."

 

Segundo Ângela, para os alunos do EJA, Cora Coralina e Patativa do Assaré são fontes de inspiração, com suas poesias fartas de exemplo de vida. Principalmente porque ambos se alfabetizaram na maturidade e transformaram suas experiências em obras a serviço da cultura do povo sofrido do campo, dos sertões desses "Brasis".

 

A metodologia de Paulo Freire aplicada pela Educação de Jovens e Adultos tem em Ângela uma grande adepta e defensora. "Os resultados não mentem. Trabalhar com temas geradores é um facilitador no processo ensino-aprendizagem para quando o aluno for transferir e inferir conhecimentos. Eixos como cidadania, meio ambiente, família e ecologia podem ser trabalhados nos diferentes conteúdos programáticos, atendendo e estimulando interesse na produção da escrita, nos cálculos, na percepção geopolítica de seu município, do seu Estado, do Brasil, da América Latina. E mais: protagonizando as relações de parceria com BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), e que através de textos produzidos em sala, compartilham saberes numa ajuda mútua. O que faz do aluno um cidadão melhor."

 

"Vir para a sala de aula tem que dar prazer. Tanto para o aluno quanto para o professor, que externa esse sentimento com o acolhimento indispensável ao bom relacionamento (parceria) que prescinde ensinar/aprender. No EJA, isso fica muito mais evidenciado. Professor só ensina se o aluno quiser aprender e isso vai depender do quê e como o professor vai ensinar", complementa Ângela.

 

O grande desejo de Ângela em relação aos seus alunos, é que eles sigam entusiasmados com a vida. "Que descubram que sempre podemos estar em uma situação de aprendizagem. Seja através de uma receita nova na TV a cabo ou assistindo a um telejornal que mostra a cultura de um país distante, onde o sistema de governo tende a ser substituído. É nessa hora que seus conhecimentos de política no exercício da cidadania pelo voto, pelas reivindicações de bairro, podem aflorar. E assim ele pode expor sua opinião pela defesa da democracia, pela liberdade de escolha de seus representantes, fiscalizar as melhorias do seu bairro ou denunciar, por exemplo, a degradação do meio ambiente através de fotos, e-mails, facebook."

 

Uma professora, como Ângela Menezes, com toda essa bagagem e confiança no que faz, só poderia ter importantes retornos profissionais. Um de seus grandes êxitos foi com o Anderson, um aluno com necessidades especiais, do primeiro ano no CREJA, em 2010. "Sua fala era comprometida por remédios, tinha pouca experiência no mundo adulto, pouca leitura, enfim, era o aluno dos meus sonhos, posto que este iria ser meu primeiro desafio: restabelecer a sua confiança e resgatar seus conhecimentos assistemáticos, tornando-os pertinentes, atrativos, prepará-lo para que fosse ao quadro escrever uma frase, fizesse um cálculo e lesse para a turma em voz alta. Esse aluno, não só conseguiu vencer suas limitações como terminou o ensino fundamental, cursando atualmente o 2º ano do ensino médio. Hoje ele quer ser professor.

 

Uma profissional que consegue com amor e experiência chegar a uma vitória como essa, vale a pena conhecer.

 

Mandou Bem

 

1. Como você traduziria o espírito da cidade?
Diversão e Arte

 

2. O que você elegeria como o melhor para o futuro do Rio?
Vejo o futuro do Rio como a 1ª cidade em Educação de Jovens e Adultos, pioneira na modalidade. E que através dela, transformou a EJA no carro chefe da verdadeira cidadania. Projetos como "Sou Pai, Sou Aluno" estreitam relações familiares e transformam alunos em cidadãos participantes do processo de crescimento da cidade.

 

3. Quais são os programas que normalmente você mais gosta de fazer?
Visita ao Museu de Arte do Rio, Lonas Culturais, Teatro Rival e ao Imperator, Parque Madureira, com seus shows ao ar livre. Pude assistir Billy Paul, Arlindo Cruz, Fundo de Quintal, entre outros. Adorei!

 

4. A melhor atração diurna e noturna?
Aos domingos, durante o dia, Quinta da Boa Vista, Jardim Botânico, as praias da orla da Alvorada, passeio de ônibus até o Castelo. À noite, shows no Rival ou ver os ensaios da Portela e Império, sambódromo, Terreirão do Samba, um chopinho na Lapa ou no Corredor Cultural do Rio Antigo. Dançar um forró e comer um baião de dois no Centro de Tradições Nordestinas, em São Cristóvão.

 

5. Dos eventos promovidos para a cidade, quais são os que você participa?
As atrações na praia de Copacabana de final do ano.

 

6. Ponto turístico que mais gosta?
Jardim Botânico, pelo seu valor histórico e científico, Museu Histórico da Quinta da Boa Vista, Centro Cultural do Banco do Brasil, Teatro Municipal, na temporada de preços populares, o Corredor histórico do Rio, com seus bares, música ao vivo, deliciosos tira-gostos combinados com a arquitetura do século XIX.

 

7. Qual é o seu petisco favorito?
Camarão no alho e óleo.

 

8. Qual é a mania mais comum do carioca com a qual você se identifica?
Puxar conversa no ônibus, trem, metrô para passar o tempo. Adoro conversar, conhecer pessoas. Gosto de gente.

 

9. Onde o Rio é mais Rio?
Aos domingos nas feiras de bairro, no Mercadão de Madureira.

 

10. Ser carioca é ...
Amar essa cidade, sua gente, seus problemas, seu "céu azul de janeiro a janeiro".