Luz no controle definitivo da maternidade

17/11/2014 04:00:00


 

Acabou a desculpa de muitas mulheres que alegam medo de ligar as trompas pelo fato de ser uma cirurgia com internação e anestesia ou porque a fila para o procedimento nas unidades de saúde é imensa. A partir deste ano, a Secretaria de Saúde está adotando um novo procedimento já utilizado na Europa, Estados Unidos, Uruguai e em São Paulo, Distrito Federal e Santa Catarina, com resultados superpositivos. Trata-se de um método que consiste na colocação de um microespiral de titânio que, inserido pela vagina por histeroscópio, é colocado em cada tuba uterina. Por reação, o dispositivo provoca fibrose bloqueando a passagem do espermatozoide. Uma prática que dispensa exames prévios, jejum e internação hospitalar.

 

Dr. Alexandre Campos, diretor geral do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (Foto: Mauro Mallet)


Segundo Dr. Alexandre Campos, diretor do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, esse método, que nasceu nos EUA, hoje é amplamente utilizado no mundo, já tendo beneficiado perto de 1 milhão de mulheres. "Acredito que no Rio, a maior parte da procura pelo procedimento seja feita por mulheres na faixa de 30 anos (a mesma da laqueadura tubária cirúrgica tradicional), com alguns poucos casos abaixo de 25 anos (que se enquadram em situações de prole numerosa ou indicações por risco de vida)", afirma o médico, que dirige o espaço de referência Hospital Mariska Ribeiro, unidade especializada em saúde da mulher e com alto nível de tecnologia em seus serviços. "Esse DNA já é nosso desde o nascimento, com um serviço de vídeo histeroscopia e cirurgia endoscópica sempre ativo e com produção significativa. Sempre oferecemos a laqueadura tubária cirúrgica. Essa nova prática é uma evolução natural para o nosso serviço", valoriza o doutor Alexandre Campos, com orgulho.

 

Doutor Alexandre Campos e a doutora Laura Osthoff durante um procedimento (Foto: Mauro Mallet) 


"Essa prática é tecnicamente empolgante. Um desafio. Tanto para o hospital, quanto para os profissionais envolvidos. Trata-se de uma cirurgia endoscópica ambulatorial, e embora não exija incisão cirúrgica e use orifícios naturais, requer cirurgiões qualificados e treinados. Ao contrário da percepção inicial, o procedimento não é trivial. Ele é minimamente invasivo, mas tem seus riscos inerentes. Daí exigir uma equipe muito treinada e coesa, e uma unidade de saúde capaz de lidar com o volume e a complexidade", assegura também o diretor, que segue entusiasmado com o novo procedimento: "é muito gratificante poder atender a uma grande demanda de esterilização feminina que sempre fez fila no Sistema de Regulamentação (SISREG) e na porta da unidade. Pelo método cirúrgico tradicional não teríamos capacidade de chegar nem perto dos 208 procedimentos propostos. Sabemos que na rede hospitalar do Município não somos a única unidade tecnicamente capaz de realizar o procedimento. Até por isso ficamos muito felizes e orgulhosos em sermos escolhidos como unidade de referência".

 

Essa nova técnica de laqueadura irá reduzir a espera de 1,7 mil mulheres cariocas que aguardam para ligar as trompas, ao permitir a realização de até 3 mil procedimentos por ano na cidade. A prática pode ser feita em apenas duas horas, nos próprios ambulatórios das unidades de Saúde do município, enquanto a tradicional, com internação, demora mais de 24 horas. E é a menos invasiva possível. Sem cortes, centros cirúrgicos e pós-operatórios. E o mais importante: aprovada pela Anvisa desde 2009.

 

Segundo Dr. Alexandre, as agendas no sistema de registros do hospital foram abertas desde início de novembro. "Estamos atuando em um piloto para validação de procedimentos, processos de trabalho e técnica. De agora em diante, serão 208 procedimentos mensais. Já temos agendadas 52 mulheres por semana", esclarece o médico, acrescentando: "todas as unidades de Atenção Básica, como o Hospital Mariska, fazem essa seleção, dão palestras de planejamento familiar, explicam o método em detalhes, e oferecem outros métodos, inclusive reforçando a irreversibilidade do novo procedimento, última ação para informar e desencorajar a esterilização precoce. Quando a mulher chega até nós, já foi regulada no sistema e tem clareza do seu desejo pelo procedimento de esterilização.

 

As mulheres interessadas devem procurar a unidade de Atenção Primária correspondente ao seu endereço residencial. Lá, elas passarão primeiro por consultas de planejamento familiar antes de serem inscritas no sistema. Se depender de método contraceptivo, a prefeitura não poderia adotar algo melhor e mais profissional para as cariocas.