Pesquisadora associada da Rede Nacional de Ciência para Educação, Maria Regina Maluf diz: aprender o alfabeto, correlacionando letra e som.
Criada em novembro de 2014 por um grupo inicial de 30 cientistas de universidades brasileiras, a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE) se organizou como associação sem fins lucrativos. Hoje, ela conta com mais de cem pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e instituições de ensino e pesquisa do país, unidos pelo objetivo de compartilhar conhecimentos e de realizar pesquisas científicas que possam promover melhores práticas e políticas educacionais, baseadas em evidências. Esses profissionais assumiram como missão fazer e fomentar a chamada pesquisa translacional em Educação, ou seja: não apenas gerar conhecimentos básicos sobre aprendizagem e ensino, mas também levar os conhecimentos adquiridos no laboratório para a realidade da escola.
De que forma a Neurociência pode auxiliar a Educação?
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Maria Regina Maluf |
"A tecnologia atual permite conhecer seu funcionamento, o que tem um impacto sobre a aprendizagem também, inclusive sobre os mecanismos necessários para aprendermos a ler e a escrever." |
Quer dizer, então, que a dificuldade não está nas crianças, mas na estrutura escolar?
No Brasil, se diz para os professores: aqui nós ensinamos a ler textos, o que é um empreendimento impossível. Isso tem gerado grande parte da ineficiência do sistema. E o pior é que tudo é baseado numa crença sem evidência de pesquisas. Acontece como na época de Galileu, quando os grandes e poderosos não quiseram enxergar e diziam que não precisavam olhar para as evidências porque Aristóteles já tinha afirmado que quem gravitava em torno da Terra era o sol, e não o contrário.
Qual a melhor maneira de ensinar o sistema alfabético? Essa situação é exclusividade brasileira? |
"No âmbito internacional, se considera que existem formas mais ou menos eficientes de alfabetizar. Mas sempre é preciso tomar consciência da fala e se apropriar do sistema alfabético, combinando os sinais de acordo com a língua falada." |
O que a Neurociência já conseguiu comprovar em termos de metodologias de alfabetização globais e fônicas? Por que a Neurociência não faz parte do curso de formação de professores?
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"É possível, sim, formar professores com conceitos de Neurociência, desde que esse conteúdo seja bem delimitado, conhecido." |
Quais são as causas mais comuns da dificuldade de aprendizagem das crianças, particularmente na primeira infância? Quando surgem, elas são de origem biológica, familiar, socioemocionais ou aquelas criadas pela inadequação da própria escola. As socioemocionais não dependem da escola sozinha, mas de uma equipe de atendimento. Por isso, a Educação Infantil de qualidade tem que contar com um corpo de especialistas. Quanto mais cedo uma criança tiver contato com a leitura e a escrita, melhor, porque ela vai falando e desenvolvendo o significado da fala. Para tanto é possível fazer jogos interessantíssimos já na fase da primeira infância. A criança que aprende a brincar com as palavras tem facilidade de relacioná-las, mais tarde, com a representação da fala. Atualmente esse contato só acontece sistematicamente a partir do primeiro ano do Ensino Fundamental, mas é importante que ele comece na Educação Infantil. São apenas 26 letras que permitem escrever tudo: nomes de pessoas, de brinquedos, animais e comidas, o que serve de aspecto motivacional. Nesta fase, alguém deve ler livros para a criança, e não apenas contar historinhas. Com isso, se torna mais interessante para ela manipular o material escrito. E, o mais importante, a criança aprende para que servem as letras. |
"Embora o contato com a fala exista desde sempre, num dado momento a criança passa para a fase da fala expressiva, por volta dos dois ou três anos. Até então, sua relação era com a fala recepti va, de entender o que lhe diziam." |
Poderia resumir os principais marcos de desenvolvimento das crianças?
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