Editorial

 

 

É com muita satisfação que apresento a 6ª edição da Revista Carioca de Educação Pública, após 3 anos sem veiculação. Este periódico tem a intenção de ser mais um espaço de reflexão para o/do professor da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, com foco na prática pedagógica que ocorre no cotidiano das Unidades Escolares.

 

 

A satisfação aumenta por estarmos retomando a Revista em um período muito especial: a comemoração do centenário do educador brasileiro Paulo Freire e uma década da Escola de Formação Paulo Freire. A sinergia deste momento inspirou o tema desta edição: a contribuição do pensamento de Paulo Freire para atualidade, em que os diversos autores, das Universidades e da Rede Municipal, entrelaçam seus fazeres e reflexões com a obra deste pensador.

 

 

Conhecer um pouco do pensamento freiriano é crucial para nós, educadores que atuamos na rede pública, onde a maioria dos nossos estudantes pertence às classes menos favorecidas. Paulo Freire nos faz refletir sobre o papel da escola na sociedade e sobre o compromisso social que temos com cada ser que transita no espaço da instituição Escola. Como ele bem nos lembrava, "a Educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda". São muitos os desafios que temos a enfrentar. São muitos os obstáculos que temos que transpor, mas não podemos deixar de esperançar, de acreditar que em cada ação pedagógica, marcada pela intencionalidade, estamos afetando nossos alunos.

 

 

Nesta edição, o artigo "Desafios da Educação e a Profissão Docente", de autoria da professora Claudia Costin, nos alerta para a importância da atuação do professor em contextos desafiadores e para a relevância da formação profissional, temas muito caros para a Educação brasileira e presentes no pensamento freiriano.

 

 

Teremos, também, a oportunidade de conhecer um pouco do Paulo Freire pessoa, por meio da entrevista realizada com Professor Moacir Gadotti, que teve o privilégio de conviver e trabalhar com ele ao longo de 23 anos.

 

 

Paulo Freire nos deixou em 1997. Será que sua obra ainda pode nos ajudar a compreender o que estamos vivenciando? Essa é uma das reflexões que as professoras Aline Monteiro e Angela Medeiros Santi nos trazem no artigo sobre Fake News. É também o que o educador popular Carlos César de Oliveira nos suscita a pensar, ao trazer o diálogo entre Paulo Freire e o educador norte-americano Ira Shor, a partir do livro "Medo e Ousadia" – características marcantes no cotidiano dos professores e professoras que se comprometem com a educação de qualidade em cada Unidade Escolar.

 

 

Apesar das ideias de Paulo Freire serem pertinentes para todas as etapas e modalidades de ensino, muitos as associam à Educação de Jovens e Adultos. Com certeza, suas inquietudes começam na década de 60, quando o Brasil possui mais de 15 milhões de jovens e adultos analfabetos. Por ser um homem de muita reflexão e ação, iniciou um movimento para alfabetizar, em 40 dias, 300 trabalhadores rurais. Essa experiência, conhecida como a "Experiência de Angicos", deu visibilidade a suas ideias e inspirou várias iniciativas para garantir o direito à alfabetização a todos os brasileiros.

 

 

Não poderíamos falar da obra de Paulo Freire sem falar da Educação de Jovens e Adultos. Por isso, no artigo da professora Jaqueline Luzia da Silva que narra sua constituição profissional como professora da EJA e seu encontro com Paulo Freire, vamos conhecer também a história da Educação de Jovens e Adultos na cidade do Rio de Janeiro, história esta que é marcada por lutas e conquistas dos professores cariocas. Complementando essa temática, temos a equipe da Gerência de Educação de Jovens e Adultos (E/SUBE/GEJA) contando sobre sua aproximação com o pensamento freiriano e os novos desafios diante da juvenilização da EJA.

 

 

Continuando nesta mesma reflexão, podemos nos enveredar pelo conto das professoras Flavia Cota e Magda Albuquerque e conhecer Saulo, um aluno que escreve os seus sonhos e que nos faz refletir sobre o papel da escola na atualidade.

 

 

Paulo Freire nos deixou um legado. Sua obra nos ajuda a compreender diversas interrogações que circulam no cotidiano da escola. No artigo dos professores Rosane Barreto Santos e Paulo Pires de Queiroz, a indisciplina pode ser interpretada como um alerta ao risco da não valorização da diversidade cultural, tema tão presente na obra do educador que preconizava uma educação libertária.

 

 

Respeito e valorização da diversidade também são temas abordados pela equipe da Coordenadoria de Diversidade, Cultura e Extensão Curricular (E/SUBE/CDCEC), que dá ênfase à construção de um modelo de educação para as relações étnico-raciais e pela equipe do Instituto Municipal Helena Antipoff (E/IHA), que estabelece o diálogo entre a práxis freiriana e a Política Nacional da Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva.

 

 

Falando em práxis, na seção Práticas de Ensino, temos o relato das professoras Fernanda Paschoal Xavier e Chayene Torres que contam como suas atividades na sala de aula (física ou virtual), envolvendo as habilidades propostas no currículo carioca, propiciam um espaço de escuta respeitosa e produção de textos, efetivamente comunicativos. A obra de Paulo Freire é vasta. Para quem não conhece, é imprescindível conhecer. Para quem já conhece, vale a pena reler, principalmente neste momento em que precisamos resgatar a boniteza de ensinar e aprender, tão preconizada pelo nosso educador!

 

 

Esta revista foi feita para você, que atua na Rede Municipal de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro. Por isso, leia e releia. Discuta com seus pares. Faça sua crítica, queremos ouvir você.

 

 

Divulgue suas ideias, reflexões e trabalho. Esperamos tê-lo como autor nas próximas edições.

 

 

Não esqueça: Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo. Você faz parte desta transformação!

 

 

 

Morgana Silva Rezende

 

Mestre em Educação pela PUC-Rio é professora da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro há 38 anos, tendo atuado em vários setores da SME e na Multirio. É Diretora da Escola de Formação Paulo Freire desde 2021.